Saudades - Kaffehauskultur
Eu não bebo café. Eu não gosto de café – nunca fiz para gostar. Eu gosto do cheiro – mesmo não bebendo, faz me sentir quente por dentro. São as memórias relacionadas com o mesmo.
Eu gosto da arte e cultura à volta do café. Gosto, tal como gosto da arte e cultura à volta do vinho, do chá, da cerveja e de outras bebidas, do charuto ou do cachimbo, de extravagâncias culinárias e de outras desnecessidades que, por nos proporcionarem prazer, originaram à sua volta rituais e tradições para aperfeiçoar e enaltecer o mesmo, que por sua vez acabam as vezes por assumir maior importância que a própria razão da sua existência.
Na Áustria, principalmente em Viena, há uma complexa cultura do Kaffehaus – “casa do café” – desde 1685, que se mantém até aos dias de hoje e que contrasta fortemente com a bica bebida ao balcão, quase como se de um shot se tratasse, na maioria dos cafés em Portugal. É claro que isso também se deve ao ritmo de vida que aceitamos ter nos dias de hoje, mas na Áustria ainda assim para ir ao Kaffehaus é preciso ter tempo, é preciso arranjar tempo. Uma pessoa entra num ambiente diferente, selecto, e torna-se cliente. Cliente no verdadeiro sentido. Um garçom, vestido a rigor, preocupa-se com o seu bem-estar. Regista os seus desejos e procura satisfazê-los o melhor que sabe e pode. O ambiente é de calma. Nada de pressas. Os jornais do dia e revistas estão expostos para a escolha e leitura do cliente. Ninguém reclama quando o cliente pede um café e fica uma hora na leitura relaxada do jornal da sua preferência. As pequenas refeições tradicionais em nada mudaram nos últimos 300 anos e ainda hoje continuam nas preferências do povo, roubando clientela aos estabelecimentos de comida rápida. A variedade e qualidade da pastelaria são tão importantes como a variedade de cafés e em muito definam uma casa. Um café não é só um café – tem que vir num tabuleiro com o obrigatório copo com água, uma canequinha com leite ou natas e açúcar em cubos. O Kaffehaus é ponto de encontro de artistas, cientistas e intelectuais. É local de discussão política e de conversa sobre arte e cultura. O espaço serve para a divulgação de concertos, exposições, lançamentos de livros e peças de teatro. Frequentemente há música ao vivo, ou a apresentação de um livro, ou um serrão de leitura. Uma associação de proprietários e representantes da cidade preocupa-se com a conservação destas casas e suas tradições. Quando forem a Viena não vão só a correr para ver os monumentos – vão tomar um café (mesmo não bebendo café, como eu).
Eu gosto da arte e cultura à volta do café. Gosto, tal como gosto da arte e cultura à volta do vinho, do chá, da cerveja e de outras bebidas, do charuto ou do cachimbo, de extravagâncias culinárias e de outras desnecessidades que, por nos proporcionarem prazer, originaram à sua volta rituais e tradições para aperfeiçoar e enaltecer o mesmo, que por sua vez acabam as vezes por assumir maior importância que a própria razão da sua existência.
Na Áustria, principalmente em Viena, há uma complexa cultura do Kaffehaus – “casa do café” – desde 1685, que se mantém até aos dias de hoje e que contrasta fortemente com a bica bebida ao balcão, quase como se de um shot se tratasse, na maioria dos cafés em Portugal. É claro que isso também se deve ao ritmo de vida que aceitamos ter nos dias de hoje, mas na Áustria ainda assim para ir ao Kaffehaus é preciso ter tempo, é preciso arranjar tempo. Uma pessoa entra num ambiente diferente, selecto, e torna-se cliente. Cliente no verdadeiro sentido. Um garçom, vestido a rigor, preocupa-se com o seu bem-estar. Regista os seus desejos e procura satisfazê-los o melhor que sabe e pode. O ambiente é de calma. Nada de pressas. Os jornais do dia e revistas estão expostos para a escolha e leitura do cliente. Ninguém reclama quando o cliente pede um café e fica uma hora na leitura relaxada do jornal da sua preferência. As pequenas refeições tradicionais em nada mudaram nos últimos 300 anos e ainda hoje continuam nas preferências do povo, roubando clientela aos estabelecimentos de comida rápida. A variedade e qualidade da pastelaria são tão importantes como a variedade de cafés e em muito definam uma casa. Um café não é só um café – tem que vir num tabuleiro com o obrigatório copo com água, uma canequinha com leite ou natas e açúcar em cubos. O Kaffehaus é ponto de encontro de artistas, cientistas e intelectuais. É local de discussão política e de conversa sobre arte e cultura. O espaço serve para a divulgação de concertos, exposições, lançamentos de livros e peças de teatro. Frequentemente há música ao vivo, ou a apresentação de um livro, ou um serrão de leitura. Uma associação de proprietários e representantes da cidade preocupa-se com a conservação destas casas e suas tradições. Quando forem a Viena não vão só a correr para ver os monumentos – vão tomar um café (mesmo não bebendo café, como eu).
4 Comments:
Pois eu detesto ter vícios. Não fumo, não bebo com regularidade, não jogo e no entanto é-me difícil imaginar um dia sem café. E aqui distingo dois conceitos. O da bica que me ajuda a manter acordado e que bebo diariamente muitas vezes como um hábito, e o das cafeteiras que faço em casa e que muitas vezes bebo sozinho ou com a companheira de sempre. Herdei este gosto de cafeteira da minha mãe, e embora goste do café que faço em casa e o mesmo seja elogiado pelas visitas, nunca me soube tão bem como o dela. Mas isto dá pano para mangas.
Quanto ao "Kaffehaus", fiquei com água na boca. E estou a pensar seriamente em incluír a Áustria na lista de viagens a fazer brevemente.
Decididamente, o meu tipo de espaço!
Nunca consegui beber café em pé, nem beber café com pressa, beber café só por beber.
Para mim o café só tem sentido como acompanhamento: De uma boa conversa, de um bom livro, de uma boa paisagem.
E enquanto não dou um pulo a Viena, vou praticando esta cultura noutro espaço, diferente no estilo, mas igualmente capaz de encher a Alma: Nos Gémeos, na praia de Carcavelos, junto ao forte de S. Julião da Barra. Ali um cliente também se sente um cliente; também há jornais, simpatia, paisagem, ambiente.
Café, que venha de todas as maneiras e feitios. Depressa, devagar, com leite, sem leite, com açucar de preferência. Na verdade, é um regalo "abancar" numa dessas cafetarias, que aqui também as há, e chocolatarias também (a especialidade é o que chamam suiço: chocolate quente coberto com chantilly). Já estive na Àustria uma vez há muitos anos, pois morava relativamente perto, na altura, no nordeste italiano. Mas perdoem-me o chauvinismo, nem mesmo o "espresso" italiano se chegou perto de uma boa bica portuguesa, ainda que bebida à pressa de pé num bar de estação. Mas já que falamos de "delicatessen", se alguém gosta dum bom vinho do Porto, já experimentaram ir ao Solar do Vinho do Porto, ali ao Jardim de S. Pedro de Alcântara, em pleno Bairro Alto? Se não foram, vão que merece a pena.
Já sim senhor!
E claro que vale a pena, mesmo quando não é propriamente fã de vinho do Porto, como eu! ;o)
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